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Outubro à Direita: transformações locais com impacto nacional

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  Na sequência das eleições legislativas de maio, as próximas eleições autárquicas, juntamente com a eleição presidencial marcada para janeiro de 2026, moldam a agenda política e mediática portuguesa. Este artigo centra-se nos principais partidos do espectro da direita (incluindo os partidos de centro-direita) – nomeadamente PSD, Chega, IL e CDS-PP – o segmento que domina, no presente, o parlamento nacional. A atenção recai sobre as eleições autárquicas, o próximo grande acontecimento político, simultaneamente condicionado pelos resultados das legislativas e com potencial para influenciar a dinâmica da futura corrida presidencial. Uma análise das eleições autárquicas deve começar por reconhecer duas mudanças estruturais reveladas no mais recente sufrágio nacional. Em primeiro lugar, os partidos de direita conquistaram coletivamente quase dois terços dos assentos parlamentares, um resultado sem precedentes na democracia portuguesa. A AD obteve mais deputados do que toda a esquer...

Guerras tarifárias, prosperidade e paz

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  A guerra de tarifas aduaneiras que os EUA de Donald Trump têm despoletado contra uma série de parceiros comerciais tem por base o argumento do reequilíbrio da balança comercial norte-americana que tem estado deficitária face a alguns desses parceiros. Outro argumento poderosíssimo apresentado pela administração Trump é mais emocional e identitário – castigar os “outros” para proteger os “nossos”, mais concretamente, proteger as empresas e os empregos dos americanos. Em contra corrente, a ciência económica olha para o déficit comercial norte-americano de outro prisma. No caso dos EUA, para além dos níveis de consumo elevados, o déficit é sobretudo produto da sua vibrante economia (sustentada por alta produtividade e pouca regulação) que atrai investimento estrangeiro. As entradas massivas de capitais estrangeiros contribuem também para tornar o dólar a reserva de valor global por excelência. Assim se percebe que o valor dos bens importados seja mais barato do que o dos bens expo...

Os radicais da frente leste

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  No passado domingo a proa do navio do dito establishment político europeu sofreu rombos adicionais. As eleições nos estados alemães da Turíngia e Saxónia revelaram mais uma subida do suspeito do costume – a direita radical – e também da esquerda radical. Na Turíngia, a direita da Alternative für Deutschland (AfD) ganhou as eleições, depois do terceiro lugar em 2019; e a esquerda da Bündnis Sahra Wagenknecht (BSW) estreou-se nas eleições como o terceiro partido mais votado, ultrapassando inclusive o Die Linke que tinha vencido em 2019. A vitória da AfD na Turíngia revelou também uma vitória dos mais radicais entre os radicais. Neste estado, o partido é liderado por Björn Höcke – político controverso, inúmeras vezes acusado de fazer resvalar o partido de direita radical para a extrema-direita devido a discursos associados a posições antissemitas e até neonazis. No estado da Saxónia, a AfD manteve o segundo lugar que obteve em 2019, mas com uma percentagem muito próxima da C...

A viragem à direita na Europa

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Aproximam-se as eleições europeias e, no que se refere a política partidária, o destaque pré e pós-eleitoral irá recair com grande probabilidade na performance da direita radical. É expectável que os grupos europeus que habitam o espaço mais à direita do espectro político tenham um resultado coincidente com o ganho de poder que os vários partidos nacionais têm vindo a obter nos respetivos parlamentos dos Estados-Membros. Importa saber que existem diferentes grupos políticos europeus que, por sua vez, agregam diferentes partidos europeus (dos quais fazem os vários partidos nacionais de cada Estado-Membro). Usando o exemplo do partido de direita radical português, o Chega faz parte do ID Party (Partido Identidade e Democracia) e o ID Party é membro do grupo europeu ID (Identidade e Democracia). Existem dois grupos que agregam os principais partidos de direita radical europeus: o, já referido, ID que inclui o Chega, os franceses da Rassemblement National (RN), os italianos da Lega, entre ...

Pedro Sánchez e César Bórgia

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Foi no longínquo ano de 1532 que O Príncipe – a obra cimeira que inaugurou a filosofia política moderna – foi publicado postumamente. Com a sua obra-prima, Nicolau Maquiavel pretendeu apresentar a política como ela realmente é e não como deveria ser; o autor florentino quebrou, de certo modo, com os clássicos e as suas conceções idealistas relativas ao governo do estado e criou um breve e, simultaneamente, sofisticado tratado político sobre a conquista e manutenção do poder.  Maquiavel foi contemporâneo de César Bórgia, um poderoso nobre, homem da igreja, das armas e da política. Maquiavel conheceu e lidou com Bórgia, tendo sido grandemente influenciado por este ambicioso e controverso anti-herói do turbulento contexto político renascentista. César Bórgia tornou-se, inclusive, uma personagem central da obra de Maquiavel, mas O Príncipe manteve-se uma referência muito para além de Bórgia e do seu tempo; muitos outros príncipes, reis e homens de estado do passado leram e estudaram a ...

A economia por detrás dos debates eleitorais

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Analisando os dados do Eurobarómetro de Outono de 2023, verifica-se que os temas que mais preocupam os portugueses são eminentemente económicos: a inflação e aumento do custo de vida, a habitação, a situação global da economia, os impostos e a saúde. E é no próximo dia 10 de março que os portugueses terão novamente oportunidade de escolher projetos políticos que respondam às suas prioridades. Portugal vive uma situação dramática que muitos suspeitavam e que, recentemente, foi conhecida e mediatizada. Importa repeti-la neste artigo e em todas as discussões sobre política e economia portuguesa: 30% da população jovem deixou o país. Uma fatia substancial dos mais qualificados e em idade fértil não acreditam no presente e futuro de Portugal, tratando-se dum sinal típico de estados falhados, como muitos exemplos presentes e passados (veja-se a Grande Fome irlandesa no século XIX, em que 20% dos irlandeses emigraram). A perda de população jovem em Portugal não é uma novidade histórica, m...

O ano de 2023 e o futuro próximo

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O ano de 2023 foi especialmente marcante para a democracia portuguesa, tendo terminado com a invulgar queda de um governo de maioria absoluta, na sequência da abertura do processo de investigação aos negócios do hidrogénio e lítio. A relevância e mediatismo do acontecimento não faz, contudo, esquecer acontecimentos nacionais e internacionais que continuam a impactar Portugal em termos sociais, culturais, políticos e económicos, independentemente de quem esteja ao leme da nau governativa portuguesa. Um dos temas cimeiros foi (e é) a crise da habitação – um tema que alimentou acesos debates parlamentares e na sociedade civil, manifestações de rua e produção de legislação que se revelou infrutífera. O incipiente investimento público aliado às alterações legislativas que o setor privado encarou como desincentivadoras, não resolveram o problema do lado da oferta. Do lado da procura, importa considerar que Portugal está inserido no Espaço Schengen, onde circulam livremente capitais e cidad...